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Pesquisadores da UFPE localizaram vestígios da construção do século 19 nas ruínas da casa-grande
Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
que desenvolvem pesquisas na área do antigo Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima,
município do Grande Recife, encontraram vestígios das primeiras construções
feitas no terreno, no século 16. Os pesquisadores localizaram, no subsolo,
restos do piso de taipa batido da casa-grande, uma base de pedra e uma
canaleta, possivelmente da época da implantação do engenho, de 1540 a 1580.
Situado na zona rural, por trás do Hospital Miguel Arraes,
Jaguaribe é um dos primeiros engenhos de açúcar de Pernambuco. Pedaços de
parede, restos de pisos e alicerces, marcas de colunas e limites de portas e
janelas identicados no local ajudarão os arqueólogos a reconstituir a
conguração original do engenho, arma a professora Cláudia Alves Oliveira,
coordenadora da pesquisa. Ela levanta a hipótese de uma provável convivência
entre índios e europeus, à época.
“É uma teoria a ser estudada”, arma a arqueóloga, que
identificou instrumentos indígenas (raspas de sílex em forma de raspador e
furador) ao escavar um trecho próximo das ruínas da capela do Engenho
Jaguaribe. Na mesma região, os pesquisadores recuperaram um pedaço de vidro
lascado à maneira dos artefatos dos índios. “Seria um indício da presença
indígena entre os europeus e da continuidade da tecnologia indígena de lascar
pedra”, observa a professora.
Cláudia Alves Oliveira acrescenta que já recuperou material pré-histórico
de morros próximos ao engenho, em pesquisas anteriores, além de objetos que
sugerem contato entre índios e europeus, como faiança (louça de barro
esmaltada) e cerâmica torneada. “No morro que estamos estudando no momento,
distante 200 metros do engenho, achamos apenas material indígena”, declara. O
trabalho é executado com alunos da pesquisadora, do curso de arqueologia da
UFPE.
EVOLUÇÃO
Em 2016, o grupo
desenterrou nesse morro uma vasilha indígena quase completa, cheia de areia,
levada para o Laboratório de Estudos Arqueológicos da UFPE. “Há a possibilidade
de ser um cemitério indígena, precisamos confirmar no laboratório”, diz ela.
Com a pesquisa em campo, os arqueólogos procuram entender a utilização dada ao
espaço, estabelecer uma cronologia mais segura e definir as atividades
diferenciadas nas áreas, explica a professora.
A pesquisa nas ruínas
do Engenho Jaguaribe começou em 2015, mas por falta de apoio financeiro teve de
ser interrompida e só foi retomada em 2017, com verba do Fundo Pernambucano de
Incentivo à Cultura (Funcultura). O trabalho, com duração de um mês, termina
nesta quinta-feira (31/08). “Fizemos o trecho da Capela de Santo Antônio, dois
anos atrás, e agora nosso foco é a casa-grande”, declara.
De acordo com o
arqueólogo Luiz Severino da Silva Júnior, doutorando na UFPE, havia uma capela
interna na casa-grande, desde o século 16. O casarão do Engenho Jaguaribe
passou por reformas nos séculos 18, 19 e 20, mantendo o oratório. A estrutura
da moradia do século 16, informa Luiz Severino, está embaixo das construções
mais novas. “A capela interna que avistamos hoje é do século 19”, observa o
arqueólogo e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(Univasf).
Nas ruínas da casa-grande, ele identifica paredes de taipa
do século 18, paredes da transição do 18 para o 19 e colunas do século 20. A
Capela de Santo Antônio, diz Luiz Severino, é mais nova que o casarão. “A nave
é de 1580, mas a capela-mor e a sacristia são de momentos posteriores. ” A
datação dos tijolos e da argamassa será feita com ajuda de um físico da
universidade.
RELATO
Até o momento, não foram encontrados sepultamentos na Capela
de Santo Antônio. Porém, no que sobrou da sacristia, ainda resta a base de um
túmulo, sem ossadas. Uma estrutura de pedra recuperada no terreno, entre o
casarão e a capela, pode indicar a localização da fábrica onde era feito o
açúcar. Os achados conrmam a descrição do Engenho Jaguaribe feita pelo viajante
inglês Henry Koster no século 19.
“Ele cou hospedado na casa do capitão-mor e relata que via a
capela à frente, a moita (fábrica) atrás e a casa-grande e a senzala à
esquerda”, diz Cláudia Alves. A próxima pesquisa será em busca de vestígios da
senzala, construções frágeis que não resistem à passagem dos séculos.
Além da pesquisa, a equipe fez uma ação de educação
patrimonial em Abreu e Lima com exposição dos achados arqueológicos na Escola
Polivalente. Também organizou ocinas de cerâmica e pintura nas Escolas Pedro
Salviano Filho e Neusa Rodrigues. Para encerrar as atividades, será realizada
uma palestra sexta-feira (1º/09) na Escola Francisco Barros.
O Engenho Jaguaribe
faz parte da Sesmaria Jaguaribe, doada por Duarte Coelho, primeiro donatário da
Capitania de Pernambuco, ao português Vasco Fernandes de Lucena, em 1540.
Fonte: JC Online
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